domingo, 26 de abril de 2009

CARTA DE APRESENTAÇÃO


Camaradas Anarquistas,

Camaradas? Camaradas não, é coisa do passado, precisamos de uma nova linguagem.
Trutas de Osasco e região indignados como nós. Mas que também são camaradas, amigos, companheiros.
Bem, quer dizer...mal. Mal porque vivemos em uma região muito problemática, todos nós sabemos. Aqui as escolas parecem prisões, a paisagem da cidade é marcada pela tonalidade cinza de concreto, o ar é sujo como os córregos que cortam a cidade, as pessoas prendem-se em vícios(fé, televisão, drogas, uso excessivo de álcool, fanatismo futebolístico, etc) pois enxergar a crueza da realidade é muito cruel, falta cabedal para muitos, muitas vezes a nós mesmo, para enfrentar de cara o chicote que estrala todos os dias.

Se não tivesse citado o nome desta logo de início, poderia estar falando de qualquer outra cidade do mundo ocidental. Ou pelo menos a maioria das atingidas pela modernidade, onde não há mecanismos suficientes de satisfação momentânea para satisfazer o mínimo de desejo de seus cidadãos(as cidades ou bairros "modelos" por exemplo), em que encontramos uma "tragédia" a cada esquina - isto é, se não estivermos andando no Parque dos Príncipes ou na Granja Viana sendo um executivo ou profissional liberal que se encontra abaixo daqueles que foram em Ipanema, Leblon, Morumbi ou Jardins.

Esta região é realmente problemática, aliás, quanto mais nos dirigimos à periferia ou ao "oeste" da Grande São Paulo a situação piora, à Oeste, Sul, Norte ou Leste. Na verdade, os problemas se encontram em todos os extremos. Mas moramos nessa região, agiremos inicialmente mais nessa por praticidade e por estarmos condicionados nesse campo de concentração de trabalhadores assalariados. Pelo menos essa é a nossa proposta. Não podemos é nos isolar, pelo contrário, devemos nos comunicar, agir em outras regiões, aprender e conhecer os desfavorecidos como nós, assim nos fortalecemos e podemos adquirir mais experiência.

É difícil de acreditar, mas esse lugar já foi até pior. Não parece pois esse tipo de história não aprendemos nas escolas, nem nos livros didáticos, nem no museu que fica na Av. dos Autonomistas em frente à Av. João Baptista, muito menos no site da prefeitura ou no artigo do Wikipédia sobre a cidade, no entanto houve muitos subversivos como nós ao longo da história daqui. Houve assaltos e atentados ao quartel do Quitaúna, atendados à bomba, manifestações e greves imensas autodirigidas pelos próprios trabalhadores(nada de Sindicato pelego querendo se promover), ações estudantis sem interesse nas próximas eleições, panelaços, autoridades com medo de morrer. Aliás, a história dos operários de Osasco começa com uma "migração" forçada de trabalhadores anarquistas advindos da Vidraria Santa Marina, localizada entre a Barra Funda e a Lapa que foram expulsos da vila operária(onde o mesmo dono da indústria era o "Seu Barriga" da vilinha) após uma greve iniciada pelas crianças exploradas!

O que temos que enfrentar são problemas diversos. As ações que faremos devem ser de ordem diversa também. De início podemos começar com coisas mais simples, como intervenções com estêncil, elaboração de um fanzine(quem sabe, com o tempo, um futuro boletim, jornal, ou outro tipo de mídia escrita), panfletagem, colagem, promoção de eventos subversivos, etc.

Podemos pensar nosso grupo como um grupo de ação com diversas estratégias. Traçar metas de curta, média e longa duração(para o resto de nossas vidas e talvez para as gerações posteriores). De curta é o que estamos fazendo, coisas mais simples como a formação de um grupo de estudos onde estudaríamos novos modos de ação para semearmos os próximos passos, assim como acharia interessante também o exercício intelectual no campo da anarquia, da filosofia, da arte(de todas!), etc. Onde, ao contrário das universidades e modelos tradicionais de educação, esses estudos não seriam apenas teóricos, mas práticos e físicos também.

De média podemos projetar eventos mais complexos, a sedimentação de contatos com grupos desse mísero país e de outras regiões do mundo, talvez até uma espécie de sede, um lugar onde poderíamos morar e promover ações, convidar pessoas, criar eventos, etc!

De longa, meus amigos, a grande revolução! Grandes rebeliões, etc! Mas antes, quem sabe, podemos construir cooperativas autogestionárias, escolas com pedagogias libertárias, comunidades alternativas pelo interior do Brasil-sil-sil ou da Bolívia-via-via, ou por qualquer outro canto do universo!

É mais ou menos isso que pensamos sobre!

Abraços e beijos. Saúde e Anarquia!