segunda-feira, 17 de agosto de 2009

ÉPOCA MODERNA E O HOMO ANATURAE



Na modernidade a “humanidade” se desliga ainda mais da natureza. Nas ideologias dominantes isso é claro. A concepção de homem é totalmente anatural: homem é uma coisa, natureza é outra. Pode-se observar o homo anaturae na história do pensamento ocidental (Descartes, Smith, Marx, etc) e no dia-a-dia do homem urbano. Nas cidades somos máquinas, autômatos, peças, ferramentas, braços ordenados, disciplinados, controlados. Desde o advento do capitalismo, onde é predominante relações sociais, mentais e econômicas sistematizadas pelo mesmo, os espaços são cada vez mais cinzas como o aço e o concreto - locais onde as pessoas circulam sem o contato direto com a terra, com a água límpida, com o ar puro. Esses espaços são altamente racionalizados para a produção, assim como suas instituições. Há duas instituições essenciais (para o sistema) para controlar @s desviad@s (que são muitos, considerad@s e tratad@s como escória, lixo): a cadeia e o hospício. São muit@s os desviad@s pois a grande maioria da população vive em condição de miséria e escravidão não declarada, ou não-oficial. Mesmo a pseudo classe intermediária, ou a “classe-média”, perece de fome e exposição aos mais variados males da urbe (falta de proteção ao calor e ao frio, fome. drogas, alcoolismo, etc) se recusar a entrar na dança do capital – vender-se, alugar-se – em troca de dinheiro - o papel símbolo, a marca que cada um carrega e identifica o portador como alguém subordinado à tal mundo cuja quantidade limita ou abre as barreiras sociais. É claro que nenhum (a) desviad@ procura por sua própria vontade essas instituições. Eles são capturados e forçados a permanecerem nessas lixeiras de homens e mulheres viv@s. E para tanto a população é vigiada intensivamente, controlada e humilhada por meio da força. A polícia e as forças armadas são os detentores do monopólio da violência legalizada. Toda essa força é voltada para proteger esse mundo e às pessoas que se beneficiam dele, o que para facilitar posso chamar de “classe dominante”. O lema do Estado totalitário é “Guerra é paz, liberdade é escravidão, ignorância é força” (Orwell - 1984). A grande sacada de George foi arrancar essa obra das entranhas do mundo moderno e jogar num tempo futuro – um tapa na cara de todos para pensar o presente e o passado, ou fugir dessa concepção etapista da vida e da história. A natureza está aparte, ela existe para ser explorada. Floresta para se transformar em madeiras e pastos. Minas para serem esgotadas. Rios para serem poluídos. Animais para serem aprisionados e consumidos. É assim o Homo Anaturae. É o homem que nega fazer parte da natureza, que se fecha em um regime exclusivo de existência, em um individualismo barato onde se torna o centro do universo. O Homo Anaturae NEGA ser um ANIMAL (Nietzsche), sobretudo. Ou melhor, considera-se um animal racional cientificamente, mas mesmo assim se desliga de todos os outros animais e ainda mais dos “reinos” vegetal e mineral. Ele nega seus instintos, seus desejos, suas vontades. É proibido ficar nu no calor, é uma tremenda falta de educação peidar e arrotar (mesmo podendo levar ao rompimento dos divertículos intestinais, causando uma peritonite onde há chance de morte), sexo e sexualidade são tabus (E aí já dava outro texto, como já existem vários, enorme por sinal). Esse homem é higienizado porque a superfície não absorve suas “impurezas” e provoca doenças, atrai monstrengos urbanos (ratos, baratas, etc) que pode ser prejudicial a sua saúde e a produção capitalista. Por isso ele caga sentadinho em um privada, toma banho de chuveiro elétrico, despeja sua libido em prostíbulos ou em masturbação excessiva sobre material pornográfico (que muitas vezes controla e uniformiza a sexualidade, ao invés de libertá-la das algemas morais). Esse homem é infeliz, iludido. Ele é assim por negar tudo o que ele é pois fora educado a ter uma concepção sobre si mesmo de ser - autômato.
James N.

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